sexta-feira, março 16, 2018

Raid Madrid - Alverca em 1919

Em 11 de Novembro 1919, após a inauguração do PMA e do Campo Internacional de Alverca, ocorrida em 26 de Outubro, este campo foi palco da primeira aterragem em Portugal de um avião vindo do estrangeiro, no caso concreto um Martinsyde F.4 Bruzzard, biplano monoposto de combate, um aparelho de demonstração com a matrícula G-EANM, pilotado pelo inglês Raynham. O avião tinha saído de Brooklands, UK, com destino a Espanha, a 6 de Outubro, tendo ficado cinco semanas em Cuatro Vientos, perto de Madrid, onde fez várias demonstrações para as entidades militares espanholas, antes de voar para Alverca.

Campo Internacional de Alverca, em frente do PMA
Sobre esta viagem transcrevo a descrição publicada no Jornal “Correo de la Mañana”:
«Às 11h30m de 11 de Novembro de 1919, levantou voo do Aeródromo de Cuatro Vientos, em Madrid, o intrépido aviador inglês Raynham, pilotando uma avião Martinsyde, tendo aterrado no campo do Parque de Material Aeronáutico, em Alverca, às 14h45m. Apesar do voo se ter efectuado com mau tempo, realizou-se em 3h05m. O piloto Rayhnam teve que lutar contra um vento de frente terrível, cuja força era aproximadamente de 46 kms/hora e algumas chuvas que o obrigaram a voar muito baixo. Este facto, unido à grande velocidade com que o aparelho voou – uma média de 190 kms/hora, deu à viagem foros de extraordinária e perigosa, segundo opinião dos técnicos.

Martinsyde F.4 com a matrícula G-EANM, no campo de Alverca
O aviador seguiu o curso do Manzanares, primeiro, e depois do Tejo, até Valência de Alcântara, seguindo mais tarde a linha férrea até Abrantes e novamente o curso do Tejo, até o Campo Internacional de Alverca. Devido à pequena altura a que o aparelho voou, a sua passagem pela fronteira em Marvão, deu origem a manifestações de entusiasmo, à passagem dos aviadores.
Quando o aparelho, o notável Martinsyde, voava sobre a serra de Guadarrama, que estava coberta de neve e oferecia um espectáculo admirável, duas enormes águias acompanharam a nave durante algum tempo. Apesar das condições difíceis em que se realizou o raid, o hábil piloto inglês, ao chegar ao Aeródromo de Alverca, quis dar uma prova eloquente de domínio técnico e realizou ante o assombro de um numeroso público, que esperava a chegada do aviador, uma série de voltas malabaristas, loops e outras piruetas acrobáticas, que culminaram numa grande ovação, após uma aterragem perfeita. As autoridades militares e oficiais da Aviação Portuguesa, dispensaram ao intrépido piloto uma recepção extremamente afectuosa. Um Breguet pilotado por oficiais portugueses aterrou pouco tempo depois, entregando ao piloto inglês, uma mensagem de saudação.»

Baptismo do Martinsyde G-EANM, como "Vasco da Gama", na Amadora.
Raynham partiu de seguida para o aeródromo da Amadora, tendo antes voado sobre Lisboa, deixando no nosso público a melhor das impressões.

Aeroplano Vasco da Gama sendo pilotado pelo tenente Pereira Gomes na Amadora.
No aeródromo da Amadora, Raynham foi recebido pelo Ministro da Guerra e dos Negócios de Inglaterra e de Espanha, tendo o Club Inglês oferecido um banquete em sua honra. A colónia inglesa em Lisboa ofereceu o avião Martinsyde ao Governo Português, que após ter sido baptizado “Vasco da Gama” por lady Drumond, esposa do Embaixador em Portugal, ficou integrado no G.E.A.R. da Amadora e depois transferido para Tancos.

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